E laborou o método para atender viciados em heroína, morfina e
remédios para a dor e promete recuperar o cérebro dos dependentes em 36 horas
Fernanda Aranda , iG São Paulo | 26/03/2013
10:53:13
Divulgação
Médico brasileiro cria método para tratar soldados
dependentes
André Waismann é brasileiro, fez
faculdade do Rio de Janeiro e há 25 anos foi convidado para trabalhar em
Jerusalém, onde montou uma clínica. Ele também ocupou o posto de médico do
exército daquele país e passou a atender casos de soldados dependentes
químicos, em especial, viciados em drogas para aliviar a dor (morfina e
heroína) das sequelas da guerra.
(O triste é que estuda no Brasil, as custas do povo brasileiro, e vai para o exterior para lá praticar o que no Brasil os centralizadores internacionais não permitem)
Para dar conta da demanda
majoritária no consultório – formada também por artistas famosos (público sobre
o qual ele se nega a falar em entrevistas) criou um método que funciona como
uma espécie de "faxina cerebral". Desde que começou a atuar, ele já
declarou ter atendido cerca de 15 mil pacientes com um modelo que foca no
sistema cerebral e não nos aspectos comportamentais que envolvem a dependência
química.
As drogas que ele utiliza para
fazer o "detox" dos dependentes são aprovadas pelo FDA (órgão
regulador de medicamentos dos EUA) mas a visão única e não multifatorial da
doença – como pregam os psiquiatras do mundo todo – faz com que o
"método Waismann" esteja longe de ser aceito como uma unanimidade.
Waismann, por sua vez, diz ter
focado as pesquisas na área da neurociência para elaborar o modelo de
atendimento que prevê apenas 36 horas de internação após intensa desintoxicação
cerebral. As pessoas são sedadas e recebem medicações por via venosa com
objetivo de interferir no mecanismo cerebral de recompensa ativado com o
consumo de substâncias psicoativas.
Infográfico : Veja como é o mecanismo de recompensa cerebral
Segundo ele, neste processo, os
neurotransmissores que reagem no contato com a droga são desativados. Deixam de
produzir endorfina, responsável pela sensação de euforia e bem-estar, como
resposta aos entorpecentes. Para Waismann, a garantia do sucesso é que esta desintoxicação
rápida blinda os dependentes dos danos causados pela abstinência.
No Brasil, os casos de dependência de medicamentos estão em ascensão , mas o
crack, a cocaína e o álcool ainda figuram como o trio mais danoso na
dependência química brasileira que já comete 10% da população brasileira
segundo o último censo feito pela UNiversidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Nesta entrevista ao iG ,
André Waismann afirma que seu método não funciona para estas drogas e diz ainda
que, atualmente, o crack é a droga mais perigosa que existe.
“Para ele, ainda não há
tratamento”.
Leia a seguir a entrevista
concedida por email.
iG: Por que o senhor acredita que
a saúde, de uma forma geral, só aborda e discute as questões comportamentais
relacionadas ao uso de drogas?
Waismann: A
dependência química é primariamente um evento neurológico ou metabólico. A
falta de tratamentos efetivos em humanos causa a cronificação da doença. A
cronificação da doença vai gerar sérios comprometimentos comportamentais. A
radical mudança comportamental vai acentuar o abuso e piorar a doença.
iG: Não considerar o
comprometimento neurológico do dependente nas estratégias de saúde coloca em
risco o tratamento? Da mesma forma, só considerar os aspectos neurológicos
também não seria um equívoco?
Waismann: O ser
humano é complexo, o corpo humano também. Tudo está interligado. Os diferentes
aspectos de cada condição ou doença devem ser considerados, mas com um nível
diferente de importância. Existe também a prioridade de tratamento. Um doente
com diabetes, por exemplo, deve ter equalizado primeiro os níveis de glicose/
insulina antes de serem avaliados os problemas psicológicos causados pela
doença.
i G: Como o senhor começou a
trabalhar com dependentes químicos e como foi o processo de elaboração do seu
método de tratamento?
Waismann: Em 1988,
fiquei responsável pelos assuntos médicos de toda a região de Jerusalém. Foi
quando passei a atender centenas de dependentes. Então iniciei a busca por
soluções. Anos depois, trabalhando com medicina neonatal , fui exposto a
recém-nascidos de mães dependentes que já nasceram dependentes. Na época eu era
também major no exército e alguns soldados se tornaram dependentes de morfina, por
consequência de ferimentos sérios. Enfim, em nenhum dos casos, eu encontrei
tratamentos eficientes. Meu método é baseado em usar antagonistas, medicações
que competem com os opiáceos (remédios) no receptores do cérebro. Com isso,
rapidamente o formato do cérebro dependente é alterado e as crises de
abstinência são impedidas.
i G: Temos no mundo hoje um
aumento progressivo da dependência de medicamentos. O senhor conseguiria
apontar as causas desse crescimento?
Waismann: O uso
cresce pela divulgação agressiva de remédios contra dor. Anos atrás, a dor foi
reconhecida como uma doença em si, não só como um sintoma. Por esse motivo,
foram criadas enfermarias e clínicas específicas para tratá-la. O resultado foi
que o uso de prescrições médicas de opiáceos aumentou tremendamente e a
crescente dependência é resultado disso. Outro aspecto é o beneficio imediato
que o opiaceo causa. É uma sensação de bem-estar, quase de euforia, que faz com
que as pessoas continuem usando as medicações mesmo quando a dor não está mais
lá. O problema é que com o tempo, a euforia passa e a dependência fica.
iG Uma das vantagens citadas
sobre o método criado pelo senhor é a rapidez dos resultados (36 horas). Este
método funcionaria para todos os tipos de droga, como maconha, cocaína, crack e
álcool?
Waismann: Não, o
tratamento que eu desenvolvi é para substâncias derivadas do ópio, como a
morfina e a heroína
i G: Consegue citar qual é a
droga mais perigosa atualmente?
Waismann: O
crack é, sem dúvida, a mais perigosa de todas as drogas. Principalmente por não
existir tratamento eficaz para ele.
iG: No Brasil, estados como Rio e
São Paulo adotaram como estratégia da internação compulsória de usuários de
crack. O senhor concorda com ela?
Waismann: O único
tratamento possível para o crack atualmente é afastar o doente do crack. Por
isso, eu só posso concordar com a estratégia de internação compulsória.